quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte VII

Historia da Música

Utilizada para fazer uma ligação direta dos alunos com a história da banda, a história da música passa a ter papel marcante na contextualização, pratica auditiva e senso critico, para os alunos da Lira da Paz, em relação ao fazer musical. Nesta contextualização histórica, o aluno deve ser conscientizado da importância da banda de música para a comunidade a que ela pertence e deve-se aproveitar os fatos históricos para auxiliar os músicos sobre o que deve ser feito para o perfeito funcionamento da banda. Também se deve incentivar o aluno a reconhecer a importância dos antigos músicos perante a sociedade musical que eles pertencem, sabendo como estes músicos sobreviviam, como a banda se locomovia, quando e onde tocavam, entre outras informações.

É através do reconhecimento do dia a dia dessas pessoas e dos problemas que eles enfrentavam para manter a banda que se cria um senso critico onde o aluno passa a melhor avaliar a posição da banda de música na comunidade. Estes fatos ajudam a criar uma relação de amor entre os alunos e a banda de música.

As bandas são entidades musicais que têm no seu quadro de maestro, músicos formados na própria instituição, onde os alunos mais evoluídos tornam futuros maestros, presidente da entidade musical, entre outras funções. Algumas pessoas, que estudaram música na Lira da Paz, tentaram reestruturar a banda de música, mas, por vários motivos, acabavam desistindo e abandonando a banda. As pessoas da comunidade relataram estas tentativas de reestruturação consideradas, em sua maioria, frustrantes. Os maestros faltavam muito devido a problemas pessoais, então os alunos iam desistindo de dar continuidade ao curso de musica, por não terem quem os conduzisse continuamente.

Este processo é interrompido quando é feito por parte da Prefeitura Municipal de Sabará, a contratação de um maestro que nunca pertencera àquela banda de música ou mesmo àquela comunidade de Ravena, fato este relatado no primeiro capitulo desta monografia.

Hoje em dia, com a banda em funcionamento, já reestruturada e pronta a estudar um repertório variado, o papel principal da história da música é mostrar aos novos músicos o repertório praticado pela antiga banda de Ravena, para resgatar um pouco desta história paralisada por quase quatro décadas de desativação.

Ainda está presente, neste ano de 2005, um musico da antiga banda Lira da Paz, senhor este de energia incomparável, ex-maestro de várias bandas de música além de compositor de obras apresentadas até hoje pela banda de música. Conhecido como Funica, considerado nosso músico mais velho o senhor Antônio Apolônio Evangelista, com 79 anos de idade é clarinetista e saxofonista e atualmente se apresenta com a Lira da Paz tocando Sax Barítono. Também ainda existem, na comunidade, outros senhores de 80 anos ou mais que não conseguem tocar seus instrumentos, mas que estão em contato com a banda, trocando informações e experiências com os alunos mais novos.

Paralelo a este resgate da cultura social da comunidade de Ravena foi utilizado a apresentação da historia da música através da audição de CDs, vídeos, leitura de texto, tendo a música, neste momento, uma função educativa. Há sempre a explicação clássica[1] de formas, tendo todas as obras demonstradas bem como um pequeno histórico da vida e obra do compositor, período ao qual ele pertenceu, como ele vivia e como pensava. Isto tudo é feito de uma maneira informal e descontraída.



[1] Da mais alta qualidade; modelar, exemplar: definição clássica, atitude clássica. Diz-se da obra ou autor que, pela originalidade, pureza de língua e forma perfeita, se tornou modelo digno de imitação. Aurélio Século XXI.

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte VI

Workshops[1]

Historicamente as bandas são entidades onde quem ensina para os alunos, seja qual for o instrumento, é o maestro, independente das técnicas particulares de cada um, fazendo com que os alunos músicos fiquem limitados ao conhecimento musical do maestro. Assim, sempre que possível, os alunos devem ter a oportunidade de participar de aulas ministradas por professores dos diversos instrumentos que compõem a banda de música. Ações como, levar os alunos a workshops ou cursos de música, devem partir do maestro. Este deve incentivar o aluno a buscar o aprimoramento técnico.

Aulas particulares também devem ser incentivadas pelo maestro, caso o aluno tenha condições de fazê-las, embora o maestro não deve transferir responsabilidades de ensino para outros professores, pois o aprimoramento musical somente é feito por alunos que o buscam.

Alguns workshops causaram grande interesse aos alunos da Lira da Paz, como por exemplo, a apresentação do grupo de música antiga Caminhos do Campo[2], que mesmo não estando diretamente relacionada com o estilo musical da Lira da Paz, rendeu expectativa e muita emoção aos alunos. A aula foi dada durante o período da tarde e culminou numa apresentação realizada à noite. Alguns alunos descreveram a aula como um fato histórico, onde os instrumentos antigos foram a referência viva de como a música pode varar os séculos e manter a sua originalidade.

Outros grupos musicais também se apresentaram e deram aulas na Lira da Paz, entre eles o Quinteto Sagrado Coração, que em sua maioria são músicos originários de bandas de música e que fizeram da música o seu meio de vida e o curso de música contemporânea com o professor Luiz Carlos Theco[3]. Deste curso também participaram Carolina Verguez, atriz do teatro Nacional do Rio de Janeiro e Cleyton Vetromilla, professor de violão da Uni-Rio.

Os workshops não ficam limitados apenas às aulas de instrumentos de sopro, nem a teoria musical convencional. Nestas aulas, os alunos podem conhecer músicas antigas, contemporâneas, causando um enorme impacto e curiosidade aos alunos da Lira da Paz.



[1] Reunião de trabalho, ou de treinamento, em que os participantes discutem e/ou exercitam determinadas técnicas.

[2] Grupo musical do professor de Filosofia e Sociologia da UEMG, José Eduardo, no ano de 2002.

[3] Luís Carlos Theco é ganhador de vários concursos internacionais de música contemporânea

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte V

Audições Musicais

Imaginemos ser possível trabalhar em um grupo musical onde os integrantes não possuam nenhuma referência ou informação musical, conhecem apenas alguns grupos que raramente se apresentam nas festas religiosas da comunidade ou que já escutaram no rádio e na televisão.

“Não é somente a escola que musicaliza e musicalizam as formas de educação não formais ligadas as diferentes práticas culturais comunitárias, como as que dizem respeito ao processo de aprendizagem das crianças, numa escola de samba, ou dos que participam de um grupo de ciranda ou folias de reis. E mais ainda: para alguém que nunca participou de como ”atividade musical”, musicalizam as experiências de vida, dispersas e às vezes sistemáticas – o ouvir rádio, dançar rock, batucar na mesa de um bar etc. – uma forma natural de se musicalizar”. (Penna, 1990, p. 22).

Era preciso criar na Lira da Paz algum mecanismo que servisse como base para observação de aspectos musicais como expressão, gestos, postura corporal, fraseado. Daí surgem às aulas áudios-visuais, que se tornam uma das mais importantes referências musicais para os alunos iniciantes em musica da Lira da Paz.

Estas aulas são trabalhadas como primeira experiência com a musica instrumental para os alunos iniciantes e como referências musicais para alunos mais antigos. Neste momento, trabalha-se tanto a historia quanto a teoria da música, definindo os períodos e as formas musicais e, por último, a música como centro transformador de cada individuo, mostrando através dos efeitos musicoterápicos a influencia direta e de forma diferente a cada individuo que a escuta.

Serão apresentadas a seguir algumas metodologias utilizadas neste trabalho áudio-visual.

Audição de CD's:

Estas aulas sempre foram realizadas de uma maneira em que, nas audições, fossem utilizados vários discos de música, de diversos estilos e períodos musicais. As músicas ou cd´s utilizadas eram levados para sala de aula tanto pelo professor quanto pelos alunos. Esta troca de experiências ou vivências musicais devem sempre que possível ser permitida pelo professor, tomando o cuidado para que não haja discriminação de estilo ou gosto musical, pois certamente o gosto do aluno estará ligado a algum sentimento relacionado a sua família ou circulo de amigos, criando, a partir daí, uma ligação mais afetiva, do que propriamente de qualidade ou cultura musical.

Quanto ao principio das aulas em que passei a utilizar a música clássica ou erudita, utilizei somente músicas que facilmente seriam reconhecidas pelos alunos, tais como A Marcha Nupcial de Mendelsson, As quatro Estações de Vivaldi, Jesus Alegria dos Homens, Arioso ou Minueto em Gm de J. S. Bach, Concerto para Uma Voz de Saint Preux entre outras. Também foram utilizadas músicas lembradas pelos alunos, tais como, Tudo por Amor de Kenny G ou temas de filmes famosos entre elas Ghost, Et, Indiana Jonnes, Tubarão e Supermam.

A finalidade da apresentação destas músicas é demonstrar ao aluno que mesmo que ele não goste ou escute este tipo de música, esta estará inserida no seu contexto musical diário, seja em festas de casamentos, feiras de arte-artesanatos ou mesmo em filmes e rádio. Outro ponto importante desta audição musical, como já dito, é a troca de informações, partindo das experiências dos alunos que trazem até a sala de aula, seu gosto musical.

Neste momento, passei a conhecer melhor a música de massa como Sandy e Junior, Zezé de Camargo e Luciano, Eguinha Pocotó, Bruno e Marrone, etc. E por mais que as rejeitasse a principio, tive algumas agradáveis surpresas, que meu preconceito não me permitiam ver, podendo perceber qualidades musicais que podiam alicerça o trabalho feito em sala de aula. Alguns destes grupos, como os cantores Sandy e Junior, apresentam à nossa infância músicas importantes como Era uma Vez de Toquinho; Bruno e Marrone resgataram a tradicional música sertaneja; Chitãozinho e Chororó regravaram músicas importantes como Rancho Fundo, todas adaptadas a um novo arranjo com versões mais modernas.

Este intercâmbio musical, entre o professor e os alunos possibilitou a formulação de uma grande questão, “Então qual música é boa?”. Até o século XIX, a música de boa qualidade estava associada diretamente de uma bela melodia atribuída com os princípios de tonalidade, direcionamento e equilíbrio formal, continuidade temática, estabilidade rítmica e uma bela orquestração.

No trabalho realizado na Lira da Paz, o método para definir a musica de boa qualidade passa a ser a da análise textual, onde se trabalha o entendimento do texto. Estas letras deviam estar fundamentadas nos princípios da prosódia musical além de contextualização gramatical, deveriam agradar e ajudar na auto-estima de cada um.

Após estas duas primeiras etapas de audição musical, onde já não existem muitas barreiras a vários estilos musicais e todos os alunos compreendem que a música não tem época, passa-se a escutar os mais variados CD’s. Nesta etapa, já se pode dar uma importância maior aos estilos musicais diretamente relacionados com as bandas de música.

Devo aqui relatar um fato importante: meus alunos mais antigos passaram a ter uma predileção pela música de concerto, seus programas de rádio e tv passam a ser aqueles em que a ênfase seja musica instrumental, programas como Quem tem medo de música Clássica apresentado por Arthur da Tabula, na Tv Senado, ou Rádio Guarani FM.

A seguir alguns CDs usados nas aulas:

  • Dobrados – Banda do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal;
  • Porque Chora? – Sociedade Musical Carlos Gomes;
  • 25 anos – Banda 12 de Março;
  • Hino Nacional Brasileiro - Banda Sinfônica da UFMG;
  • Hinos Oficiales Europeus – Banda Sinfônica da Infanteria de Marina de Madrid;
  • Favorite American Marches – Featuring Works by John Philip Souza;
  • Os Maestros se Encontram;
  • Os Mais belos Clássicos;
  • The Classical Collection – Vivaldi – O esplendor do Barroco;
  • The Classical Collection – J. S. Bach – Obras Primas;
  • The Classical Collection – Grieg – O Espírito Norueguês,
  • Classic Gallery – Bizet/Smetana/Ponchielli;
  • Guiseppe Verdi – Orquestra de Câmera Uni-Bh,
  • Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 4;
  • Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 5;
  • Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 6;
  • Grandes Temas Orquestrais – Jonh Willians;
  • Vangelis – Portraits – So Long Ago, So Clear;
  • Richard Claydeman – The Collection – Big Hits;
  • Xandoca – Alexandre Pilo;
  • O Melhor de Luis Gonzaga;
  • Choros Imortais – Altamiro Carrilho;
  • Musicas do Século XX – Quarteto em Cy e MPB4;
  • África Gerais – Mauricio Tizumba;

Vídeos

Com o mesmo objetivo da aula de audição musical e servindo de base para observação de aspectos de expressão, gestos musicais e postura corporal, as aulas que usaram recursos audiovisuais se tornaram uma das mais importantes referências musicais para os alunos iniciantes ou mesmo como uma primeira experiência com musica clássica.

As aulas são sempre dadas como se fosse um cinema, onde a pipoca e o refrigerante estão presentes. A sala de cinema é a casa de um aluno cuja sala tenha um espaço adequado para que todos possam assistir ao filme. A nossa intenção como entidade musical é poder ter na nossa sede um local com recursos como televisão, vídeo, DVD e aparelho de som.

São apresentados filmes voltados para o fazer musical. Desenhos como Fantasia 2000, da Wall Disney, servem como um primeiro contado dos alunos com a música clássica, ou mesmo filmes como Ritmo Total, onde se apresentam concursos de fanfarra. É importante lembrar que não se apresentam apenas filmes relacionados à banda de música, pois o importante é se falar de musica. Filmes tais como “Todas as Manhãs do mundo” ou mesmo documentários como o da vida de “Nelson Freire” e a “Historia do Violino” também são assistidos.

Gravações de apresentações da Sociedade Musical Lira da Paz, também são assistidas, tendo como finalidade correções quanto a possíveis erros de afinação, fraseados além de possibilitar aos alunos notarem sua postura perante a uma apresentação, como foi o caso da gravação do projeto Ravena In Concert, realizado pela Lira da Paz no Teatro Municipal de Sabará[1].

Recitais, apresentações de dança e teatro.

Quem não se emociona com um espetáculo ao vivo, onde o público sente de perto como a musica, a dança ou o teatro, influencia diretamente na maneira de pensar e agir, gostar e fazer, praticar e realizar de cada individuo? Imbuído neste principio de participação e observação das características e possibilidades de performance dos grupos que vão assistir, todos os alunos da Lira da Paz são incentivados a ir a teatros ou assistirem apresentações públicas, das mais variadas formas de arte.

É importante para um aluno ou artista ter variedade de informações culturais; o artista só cria a partir de uma referência. Ele deve possuir uma biblioteca de informações culturais, pois somente a partir destas referências ele pode discernir o que, para ele, realmente é de qualidade ou não. Por isto é que não se determina o que ele deva ver ou escutar, para que depois ele mesmo possa escolher o que quer ver ou escutar. A demonstração disto está nas apresentações públicas que todo o grupo já assistiu. Na sua maioria, foram realizadas excursões até o local onde estas apresentações estavam sendo realizadas.

Serão citadas abaixo algumas apresentações assistidas pelos alunos da Lira da Paz:

Igreja do Rosário

· Recital Quarteto de Clarinetes – grupo de clarinetes composto por professores e alunos da Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais.

· Funarte – Peças Sois peça está onde uma artista declama texto de Cecília Meirelles e o fundo musical são obras de Guerra Peixe feitas para violão.

Igreja Nossa Senhora de Assunção

· Recital Quinteto de Sopros - Sagrado Coração - Quinteto formado a partir do instrumental utilizado nas bandas de música, com o objetivo de ampliar os horizontes musicais dos alunos das bandas de música mostrando a estes que existem novas formas de se fazer música a partir de uma banda.

· Recital de Violão - Alexandre Piló.

Teatro Municipal de Sabará

· Dança do Ventre.

· Recital de Formatura do Curso de Bacharelado em Flauta Transversal – Alleton de Melo Silveira.

· Recital de Violão

· Apresentação da Orquestra Santa Cecília de Sabará

· Apresentação da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar

· Apresentação da Banda Sinfônica 12 de Março

Apresentações públicas em espaços abertos

· Domingo no Parque – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – no programa realizado no parque municipal de Belo-Horizonte.

· Apresentação do flautista Altamiro Carrilho – Praça da Liberdade – Belo-Horizonte.



[1] . Este projeto musical foi realizado como apresentação de final de ano no Teatro Municipal de Sabará no dia 17 de dezembro de 2005

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte IV

Teoria musical

Na Lira da Paz, a teoria musical aparece de uma forma paralela junto às práticas musicais. O estudo teórico sempre vem acompanhado da prática musical, seja ela através do Canto Coral ou Bandinha Rítmica numa primeira fase ou do Grupo de Flautas Doce em uma segunda fase. A leitura de partituras é o ponto de partida do estudo musical. Referências de dobro e metade, alturas, intensidades, etc... são ensinadas de forma descontraída sem prévia definição dos termos musicais.

Para alguns músicos, principalmente no caso dos adultos, o fato de tocar um instrumento musical é o único propósito de participar de uma banda de música. Muitos deles não estão dispostos a estudar teoria musical com seus termos técnicos como tonalidades, harmonia, agógica entre outras definições; mesmo quando se mostra à importância da teoria musical, alguns continuam receosos em relação ao estudo teórico.

Então, para não desmotivar os alunos, eles são incentivados a participar do grupo, definindo como ponto importante somente à leitura de partitura, com seus valores rítmicos e nome de notas. Então a leitura de partitura passa a ser o requisito básico para que este aluno possa continuar como músico da Lira da Paz.

O estudo dos termos técnicos, definições e conceitos da teoria musical, os estudos de harmonia e das formas musicais, dentre outros assuntos, somente é dado para aqueles alunos que se interessem por estes estudos, tanto para o enriquecimento e crescimento musical individual como para auxiliar algum aluno que queira prestar vestibular de música ou participar de algum concurso voltado para a música.

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte III

Trabalhos rítmicos

De mais fácil aquisição que os instrumentos de sopro, os instrumentos de percussão se tornam um outro importante aliado no ensino musical realizado pela Lira da Paz. Trabalhos rítmicos sempre são utilizados no ensino musical através da formação de pequenos grupos de percussão.

No principio dos estudos teóricos, foram utilizados instrumentos pertencentes à antiga banda Lira Paz, como por exemplo, o tarol, o pandeiro, o bumbo e o prato, único instrumento ainda utilizado nas atuais apresentações da Lira da Paz. Instrumentos trazidos pelos alunos também são utilizados, além de cabos de vassoura, xiquexique feitos com yakult, entre outros que possam ser utilizados.

Os exercícios são, no seu inicio, pequenas peças musicais para bandas rítmicas, de fácil execução e compreensão dos alunos. Os exemplos utilizados são retirados de várias fontes musicais direcionadas a estes trabalhos rítmicos. Umas destas referências é o trabalho realizado pela professora Adelina Santos Barreto, que tem no seu livro Música e Percussão uma importante fonte a ser consultado.

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte II

Canto Coral

Um dos mais importantes e acessíveis instrumentos musicalizadores ao alcance de um maestro, a voz humana, é um dos melhores recursos musicais a serem utilizados nas bandas de música no que diz respeito ao auxílio das práticas musicais, já que muitas das vezes os alunos desistem das aulas teóricas por não praticarem a teoria que aprendem.“É da voz que o homem construiu, em seu desenvolvimento histórico..., como forma de arte – cuja especificidade é ter o som como material básico”. (Penna, 1990, p. 19).

Os alunos sempre associam o estudo de música com o ato de aprender a tocar um instrumento musical; eles nunca estão dispostos a estudar apenas a teoria, historia da música, e é por isto que praticar flauta doce ou cantar num coral se tornam fatores determinantes para prender a atenção dos alunos. As duas perguntas mais freqüentes feitas pelos alunos são: “Quando eu vou tocar?”, “Que instrumento eu vou tocar?”.

Uma maior ênfase à voz humana, sempre deve ser dada; o maestro deve demonstrar ao aluno que a voz também é um instrumento musical tão ou até mais importante, em alguns casos, que os outros utilizados pela banda de música. Por razões de ensino, é importante definir o som da voz, como, geralmente se faz com os outros instrumentos musicais.

A voz é um som produzido na laringe pelas pregas vocais. Podemos imaginar que a laringe é um tubo, uma flauta doce, aberta somente nas partes superior e inferior, que fica em pé na parte da frente da garganta. Por ela passa somente um ar que respiramos “(Masson, 2004, p.6).

Para Nelson Mathias (1986, p.21) a música feita por um coral misto, adulto ou infantil, ajuda o individuo a buscar o som próprio de cada ser humano, assim ajudando-o a entrar num processo de educação musical libertadora. O cantor partirá do seu próprio saber, que no sentido original significa sentir o gosto, perceber o som, a música.

Quando se realiza um trabalho de música coral, seja a quatro vozes ou mesmo um coro em uníssono, alguns resultados são imediatos, tanto no de trabalho em grupo, quanto no individual. A música coral ajuda a valorizar a individualidade de cada um e a individualidade do outro através das relações interpessoais, desenvolvendo por fim a musicalidade de cada pessoa envolvida no grupo. No coral dos alunos da turma de teoria da Lira da Paz, a prioridade não é a formação de um coral profissional “a quatro vozes”, o máximo que se trabalha é um coral a duas vozes. O ponto mais importante é a prática musical juntamente com a utilização de técnicas de respiração, leitura de partituras, frases musicais, afinação, noções de grave e agudo e trabalho em grupo.

Atualmente, nas novas turmas que se formam na Lira da Paz, o coral de alunos passa a existir em conjunto com o grupo de flautas doce, onde a criança prática a música na flauta doce e de imediato canta a melodia. Como exemplo de uma das músicas utilizadas foi retirado do livro de Mário Mascarenhas Brincando com Flauta Doce – Melodias Fáceis (Mascarenhas, 1996, p. 13)

No que diz respeito ao repertório, são trabalhadas músicas de fácil compreensão e de conhecimento, em sua maioria, dos próprios alunos da Lira da Paz. A música escolhida pelo maestro nunca aparece com seu nome ou autor na partitura para que assim os alunos possam praticar a leitura da mesma e a partir desta leitura descobrir a música que por eles está sendo cantada. Também são incluídas no repertório pequenas peças musicais como cânones, músicas natalinas e músicas religiosas, com o objetivo de serem utilizadas em apresentações nas festas religiosas existentes na comunidade de Ravena. A seguir algumas músicas utilizadas

  • Asa Branca – Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga. (Pimenta, 1986, p.60).
  • Romaria – Renato Teixeira. (Pimenta, 1986, p.314).
  • Era uma Vez – Toquinho.
  • O Cio da Terra – Milton Nascimento / Chico Buarque.
  • Então é Natal – John Lennon / Yoko Ono.
  • Jesus Cristo – Roberto Carlos / Erasmo Carlos.
  • Noite Feliz – F. Gruder.
  • Pastorzinho – Folclore Brasileiro.
  • Mucama Bonita – Folclore Brasileiro.
  • O Trem de Ferro – Folclore Brasileiro.
  • Bambalalão – Folclore Brasileiro.
  • Marcha Soldado – Folclore Brasileiro.
  • O Cravo Brigou com a Rosa – Folclore Brasileiro
  • Mulher Rendeira – Folclore Brasileiro
  • Nona Sinfonia – L.V.Beethoven.
  • Terezinha de Jesus – Folclore Brasileiro
  • Oh! Ciranda, Cirandinha – Folclore Brasileiro
  • Hino Nacional Brasileiro – Francisco Manoel da Silva / Ozório Duque Estrada

Metodologia de ensino utilizados na Lira da Paz - Parte I

Segundo Moraes (1997, p.2) um dos fatores mais importantes na realização de um trabalho em grupo bem sucedido é o uso de material didático: impresso ou produzido pelo próprio professor. Este material deve atender a várias exigências, tanto sociais como musicais, estimulando o aluno a ter interesse pelo próprio aprendizado e por fazer suas próprias descobertas. Neste trabalho é importante integrar as experiências de cada aluno, possibilitando o ensino em que a aprendizagem não seja unidirecional, do professor para o aluno. Em resumo, este material didático deve levar o professor à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

Para Celso Antunes (1998, p.16), “toda criança é semelhante a inúmeras outras em alguns aspectos e singularmente em outras”;cada uma se adapta culturalmente ao ambiente e a educação que tiver, onde um ambiente afetuoso e uma educação rica em estímulos ajudam a superar muita das privações e atenuar os efeitos de conseqüências emocionais. Estes princípios de integração não são importantes somente para as crianças, mas também para os adultos que participam do meio musical existente na Lira da Paz.

Quando iniciei meu trabalho, junto a Lira da Paz, sempre procurei evitar o ensino musical tradicional utilizado nas bandas de música, onde a música somente era permitida a quem tivesse “dom musical” ou facilidade para aprender. O pensamento utilizado foi o de que qualquer ser humano é passível de aprender música, nunca devendo ser privado de fazer ou estudar música, mesmo com as dificuldades e limitações de cada individuo.

Ao considerarmos o conceito de musicalização ou o ato de musicalizar, notaremos a importância de permitir que cada individuo tenha a chance de poder fazer música:

“Desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o individuo possa ser sensível a música aprendê-la recebendo os materiais sonoros, musicais como significativos - pois nada é significativo no quadro das experiências acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção desenvolvidos”. (Penna, 1990, p. 22).

Várias técnicas de musicalização foram utilizadas na Lira da Paz, com único objetivo de permitir que cada participante da banda tenha um principio musicalizador que o permita ouvir, sentir, pensar e trabalhar música. A seguir apresentaremos algumas destas técnicas.