Audições Musicais
Imaginemos ser possível trabalhar em um grupo musical onde os integrantes não possuam nenhuma referência ou informação musical, conhecem apenas alguns grupos que raramente se apresentam nas festas religiosas da comunidade ou que já escutaram no rádio e na televisão.
“Não é somente a escola que musicaliza e musicalizam as formas de educação não formais ligadas as diferentes práticas culturais comunitárias, como as que dizem respeito ao processo de aprendizagem das crianças, numa escola de samba, ou dos que participam de um grupo de ciranda ou folias de reis. E mais ainda: para alguém que nunca participou de como ”atividade musical”, musicalizam as experiências de vida, dispersas e às vezes sistemáticas – o ouvir rádio, dançar rock, batucar na mesa de um bar etc. – uma forma natural de se musicalizar”. (Penna, 1990, p. 22).
Era preciso criar na Lira da Paz algum mecanismo que servisse como base para observação de aspectos musicais como expressão, gestos, postura corporal, fraseado. Daí surgem às aulas áudios-visuais, que se tornam uma das mais importantes referências musicais para os alunos iniciantes em musica da Lira da Paz.
Estas aulas são trabalhadas como primeira experiência com a musica instrumental para os alunos iniciantes e como referências musicais para alunos mais antigos. Neste momento, trabalha-se tanto a historia quanto a teoria da música, definindo os períodos e as formas musicais e, por último, a música como centro transformador de cada individuo, mostrando através dos efeitos musicoterápicos a influencia direta e de forma diferente a cada individuo que a escuta.
Serão apresentadas a seguir algumas metodologias utilizadas neste trabalho áudio-visual.
Audição de CD's:
Estas aulas sempre foram realizadas de uma maneira em que, nas audições, fossem utilizados vários discos de música, de diversos estilos e períodos musicais. As músicas ou cd´s utilizadas eram levados para sala de aula tanto pelo professor quanto pelos alunos. Esta troca de experiências ou vivências musicais devem sempre que possível ser permitida pelo professor, tomando o cuidado para que não haja discriminação de estilo ou gosto musical, pois certamente o gosto do aluno estará ligado a algum sentimento relacionado a sua família ou circulo de amigos, criando, a partir daí, uma ligação mais afetiva, do que propriamente de qualidade ou cultura musical.
Quanto ao principio das aulas em que passei a utilizar a música clássica ou erudita, utilizei somente músicas que facilmente seriam reconhecidas pelos alunos, tais como A Marcha Nupcial de Mendelsson, As quatro Estações de Vivaldi, Jesus Alegria dos Homens, Arioso ou Minueto em Gm de J. S. Bach, Concerto para Uma Voz de Saint Preux entre outras. Também foram utilizadas músicas lembradas pelos alunos, tais como, Tudo por Amor de Kenny G ou temas de filmes famosos entre elas Ghost, Et, Indiana Jonnes, Tubarão e Supermam.
A finalidade da apresentação destas músicas é demonstrar ao aluno que mesmo que ele não goste ou escute este tipo de música, esta estará inserida no seu contexto musical diário, seja em festas de casamentos, feiras de arte-artesanatos ou mesmo em filmes e rádio. Outro ponto importante desta audição musical, como já dito, é a troca de informações, partindo das experiências dos alunos que trazem até a sala de aula, seu gosto musical.
Neste momento, passei a conhecer melhor a música de massa como Sandy e Junior, Zezé de Camargo e Luciano, Eguinha Pocotó, Bruno e Marrone, etc. E por mais que as rejeitasse a principio, tive algumas agradáveis surpresas, que meu preconceito não me permitiam ver, podendo perceber qualidades musicais que podiam alicerça o trabalho feito em sala de aula. Alguns destes grupos, como os cantores Sandy e Junior, apresentam à nossa infância músicas importantes como Era uma Vez de Toquinho; Bruno e Marrone resgataram a tradicional música sertaneja; Chitãozinho e Chororó regravaram músicas importantes como Rancho Fundo, todas adaptadas a um novo arranjo com versões mais modernas.
Este intercâmbio musical, entre o professor e os alunos possibilitou a formulação de uma grande questão, “Então qual música é boa?”. Até o século XIX, a música de boa qualidade estava associada diretamente de uma bela melodia atribuída com os princípios de tonalidade, direcionamento e equilíbrio formal, continuidade temática, estabilidade rítmica e uma bela orquestração.
No trabalho realizado na Lira da Paz, o método para definir a musica de boa qualidade passa a ser a da análise textual, onde se trabalha o entendimento do texto. Estas letras deviam estar fundamentadas nos princípios da prosódia musical além de contextualização gramatical, deveriam agradar e ajudar na auto-estima de cada um.
Após estas duas primeiras etapas de audição musical, onde já não existem muitas barreiras a vários estilos musicais e todos os alunos compreendem que a música não tem época, passa-se a escutar os mais variados CD’s. Nesta etapa, já se pode dar uma importância maior aos estilos musicais diretamente relacionados com as bandas de música.
Devo aqui relatar um fato importante: meus alunos mais antigos passaram a ter uma predileção pela música de concerto, seus programas de rádio e tv passam a ser aqueles em que a ênfase seja musica instrumental, programas como Quem tem medo de música Clássica apresentado por Arthur da Tabula, na Tv Senado, ou Rádio Guarani FM.
A seguir alguns CDs usados nas aulas:
- Dobrados – Banda do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal;
- Porque Chora? – Sociedade Musical Carlos Gomes;
- 25 anos – Banda 12 de Março;
- Hino Nacional Brasileiro - Banda Sinfônica da UFMG;
- Hinos Oficiales Europeus – Banda Sinfônica da Infanteria de Marina de Madrid;
- Favorite American Marches – Featuring Works by John Philip Souza;
- Os Maestros se Encontram;
- Os Mais belos Clássicos;
- The Classical Collection – Vivaldi – O esplendor do Barroco;
- The Classical Collection – J. S. Bach – Obras Primas;
- The Classical Collection – Grieg – O Espírito Norueguês,
- Classic Gallery – Bizet/Smetana/Ponchielli;
- Guiseppe Verdi – Orquestra de Câmera Uni-Bh,
- Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 4;
- Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 5;
- Coleção O Dia - Músicas Imortais do Cinema – Volume 6;
- Grandes Temas Orquestrais – Jonh Willians;
- Vangelis – Portraits – So Long Ago, So Clear;
- Richard Claydeman – The Collection – Big Hits;
- Xandoca – Alexandre Pilo;
- O Melhor de Luis Gonzaga;
- Choros Imortais – Altamiro Carrilho;
- Musicas do Século XX – Quarteto em Cy e MPB4;
- África Gerais – Mauricio Tizumba;
Com o mesmo objetivo da aula de audição musical e servindo de base para observação de aspectos de expressão, gestos musicais e postura corporal, as aulas que usaram recursos audiovisuais se tornaram uma das mais importantes referências musicais para os alunos iniciantes ou mesmo como uma primeira experiência com musica clássica.
As aulas são sempre dadas como se fosse um cinema, onde a pipoca e o refrigerante estão presentes. A sala de cinema é a casa de um aluno cuja sala tenha um espaço adequado para que todos possam assistir ao filme. A nossa intenção como entidade musical é poder ter na nossa sede um local com recursos como televisão, vídeo, DVD e aparelho de som.
São apresentados filmes voltados para o fazer musical. Desenhos como Fantasia 2000, da Wall Disney, servem como um primeiro contado dos alunos com a música clássica, ou mesmo filmes como Ritmo Total, onde se apresentam concursos de fanfarra. É importante lembrar que não se apresentam apenas filmes relacionados à banda de música, pois o importante é se falar de musica. Filmes tais como “Todas as Manhãs do mundo” ou mesmo documentários como o da vida de “Nelson Freire” e a “Historia do Violino” também são assistidos.
Gravações de apresentações da Sociedade Musical Lira da Paz, também são assistidas, tendo como finalidade correções quanto a possíveis erros de afinação, fraseados além de possibilitar aos alunos notarem sua postura perante a uma apresentação, como foi o caso da gravação do projeto Ravena In Concert, realizado pela Lira da Paz no Teatro Municipal de Sabará[1].
Recitais, apresentações de dança e teatro.
Quem não se emociona com um espetáculo ao vivo, onde o público sente de perto como a musica, a dança ou o teatro, influencia diretamente na maneira de pensar e agir, gostar e fazer, praticar e realizar de cada individuo? Imbuído neste principio de participação e observação das características e possibilidades de performance dos grupos que vão assistir, todos os alunos da Lira da Paz são incentivados a ir a teatros ou assistirem apresentações públicas, das mais variadas formas de arte.
É importante para um aluno ou artista ter variedade de informações culturais; o artista só cria a partir de uma referência. Ele deve possuir uma biblioteca de informações culturais, pois somente a partir destas referências ele pode discernir o que, para ele, realmente é de qualidade ou não. Por isto é que não se determina o que ele deva ver ou escutar, para que depois ele mesmo possa escolher o que quer ver ou escutar. A demonstração disto está nas apresentações públicas que todo o grupo já assistiu. Na sua maioria, foram realizadas excursões até o local onde estas apresentações estavam sendo realizadas.
Serão citadas abaixo algumas apresentações assistidas pelos alunos da Lira da Paz:
Igreja do Rosário
· Recital Quarteto de Clarinetes – grupo de clarinetes composto por professores e alunos da Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais.
· Funarte – Peças Sois – peça está onde uma artista declama texto de Cecília Meirelles e o fundo musical são obras de Guerra Peixe feitas para violão.
Igreja Nossa Senhora de Assunção
· Recital Quinteto de Sopros - Sagrado Coração - Quinteto formado a partir do instrumental utilizado nas bandas de música, com o objetivo de ampliar os horizontes musicais dos alunos das bandas de música mostrando a estes que existem novas formas de se fazer música a partir de uma banda.
· Recital de Violão - Alexandre Piló.
Teatro Municipal de Sabará
· Dança do Ventre.
· Recital de Formatura do Curso de Bacharelado em Flauta Transversal – Alleton de Melo Silveira.
· Recital de Violão
· Apresentação da Orquestra Santa Cecília de Sabará
· Apresentação da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar
· Apresentação da Banda Sinfônica 12 de Março
Apresentações públicas em espaços abertos
· Domingo no Parque – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – no programa realizado no parque municipal de Belo-Horizonte.
· Apresentação do flautista Altamiro Carrilho – Praça da Liberdade – Belo-Horizonte.
[1] . Este projeto musical foi realizado como apresentação de final de ano no Teatro Municipal de Sabará no dia 17 de dezembro de 2005
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